Nove semanas e meia

 

Nove semanas e meia.

 

Quem já passou dos 40 anos e gosta um pouco de cinema conhece este número impreciso: Nove semanas e meia de amor é o título instigante de um filme americano, que pode ser definido como um drama erótico; sucesso dos anos 80, protagonizado por uma atriz linda (Kim Bassinger) com uma cena antológica do cinema. Tal cena combina um namoro “quente”, “temperado” por morango e chantilly e iluminado pela luz de uma geladeira com a porta aberta… quem não assistiu, que imagine.

Quando finalmente este autor escreve um novo texto para o Blog, no quinto dia do mês maio, a soma de seu tempo corrido de trabalho em um “novo” cartório corresponde aproximadamente com este número. Nove semanas e meia é o tempo de atuação do cronista como titular de uma nova delegação de registro civil e tabelionato.

 No Estado de São Paulo, como é sabido, concursos para provimento e remoção na titularidade das delegações são realizados com relativa freqüência, este cronista, que foi aprovado no 3°Concurso (encerrado em maio de 2005) e escolheu uma delegação na rica e bela cidade de Matão, que, até então lhe era uma completa desconhecida, lá permaneceu até o início de março deste ano de 2010, quando então, aprovado n° 6° concurso de remoção realizado pelo TJ-SP, assumiu a delegação do igualmente rico e próspero, distrito de Sousas, do município e Comarca de Campinas.

Motivos de ordem pessoal foram determinantes para a escolha. Sendo mais explícito: a proximidade da família e da terra natal pesaram na escolha feita.

Sessenta e poucos dias – ou nove semanas e meia – é tempo bastante para que um tórrido romance esfrie e termine dramaticamente (o que acontece no filme acima citado) mas não é o suficiente para uma perfeita adaptação a um novo cartório, uma nova cidade, uma nova equipe de trabalho,uma nova realidade, enfim.

Se o paciente leitor acompanhou este texto até este momento é porque mudanças lhe interessam e a curiosidade o instiga continuar (apesar do estilo maçante deste autor). É este o pensamento de quem lê tal palavrório, é esta sua motivação: O que este homem tem a dizer sobre mudanças?. Bem o sabe este escritor e por isso prossegue na toada.

Um grande poeta já disse anteriormente: Navegar é preciso, viver não é preciso...Este paradoxo (ou este absurdo) é o próprio dilema da mudança.

É exatamente isso, um paradoxo, o que todos vivemos.

Desejamos permanecer na estabilidade, sem sustos, sobressaltos, na tranqüilidade de nossas rotinas, mas o mundo e nós mesmos mudamos a cada dia. Para dizer o mínimo: nossas células morrem e se substituem aos milhares todos os dias da vida; com o passar do tempo, até mesmo fisicamente, deixamos de ser quem éramos, mudamos, enfim.

Mudar, assim como navegar em mares desconhecidos em busca de um ideal, é realmente necessário – imprescindível mesmo – pois é isso que dá sentido à vida.Vida que passa, diante de nossos olhos e relógios, rápido demais em direção ao fim inexorável.

Mudar, enfim, é preciso. Mas é perigoso, cansativo e, por vezes, dolorido.

De volta ao começo, retoma-se e completa o título: Nove semanas e meia…de surpresas. Boas surpresas, outras nem tanto; isso resume a experiência de assumir uma nova delegação, um novo cartório.

Ainda não é possível afirmar se a troca feita foi realmente boa para este tabelião – e, agora, também registrador civil – mas não há dúvida de que o ganho de experiência sempre vale a pena.

O tempo passa rápido, ao trabalhar demais, ao administrar as surpresas de cada dia e ao adaptar-se a nova rotina de pequenas viagens diárias, não se consegue escrever artigos para este blog; fica difícil ler e participar ativamente de grupos de discussão ou estudar despretensiosamente temas e dúvidas que surgem apenas para quem pode ser dar ao luxo de praticar, com boa vontade e mente aberta, ócio produtivo do qual nascem as belas artes, as idéias e a filosofia.

Eis um fato comprovado: o ócio, assim como o trabalho, é muito produtivo.

Se, por um lado, mudanças, em geral, não combinam com ócio, artes e especulação, por outro lado, são uma rica fonte de novas experiências, conhecimento e crescimento pessoal.

Mudar, de fato, é preciso, é necessário, mas, confessemos, é um pouco dolorido e sempre traz alguma dose de sacrifício e privação.   

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  1. Lucas de Arruda serra disse:

    Parabéns pelo texto Marco Antonio.

    Abraços,

    Lucas de Arruda Serra
    SP, 21.05.2010

  2. Lucas de Arruda serra disse:

    Parabéns pelo texto Marco Antonio.

    Abraços,

    Lucas de Arruda Serra
    SP, 21.05.2010

  3. J. Hildor disse:

    “Saudades de Matão”, de Tonico e Tinoco, eu cantava nos tempos de guri de calças curtas – era ontem, ainda, mas já esqueci a letra, que memória fraca!
    Pelo que vejo, o Marco Antônio está com “Saudades de Matão”, e isso é natural, manifestando-se com mais intensidade nos primeiros meses após a mudança. Depois, à medida que se faz novas amizades e são conquistados outros espaços, a saudade vai arrefecendo, mesmo que não acabe nunca – perde um pouco de forças, somente.
    Logo, logo, Sousas terá ocupado, também, um lugar cativo no coração do blogueiro.
    Sucesso!

  4. J. Hildor disse:

    “Saudades de Matão”, de Tonico e Tinoco, eu cantava nos tempos de guri de calças curtas – era ontem, ainda, mas já esqueci a letra, que memória fraca!
    Pelo que vejo, o Marco Antônio está com “Saudades de Matão”, e isso é natural, manifestando-se com mais intensidade nos primeiros meses após a mudança. Depois, à medida que se faz novas amizades e são conquistados outros espaços, a saudade vai arrefecendo, mesmo que não acabe nunca – perde um pouco de forças, somente.
    Logo, logo, Sousas terá ocupado, também, um lugar cativo no coração do blogueiro.
    Sucesso!

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