Digito, logo existo…

DIGITO, LOGO EXISTO…

                A ânsia de participar de redes sociais e “estar conectado” se alastra como epidemia. A “intimidade” com o meio é tal que já não se sabe onde está o privado e o público. Ao que parece, existir é estar conectado e não mais apenas pensar. Tudo o que se pensa fazer se posta, é o narcisismo em seu último grau, representado não mais pelo espelho mas sim pelos monitores e telas.

Todos se cadastram para aparecer e ter o seu minuto de fama, não estar é não ser e consequentemente não existir. Se Descartes vivesse nestes tempos provavelmente sua célebre frase seria:  Digito, logo existo! Vejamos, há quase 400 anos a base para o saber moderno era lançada a partir de seu dualismo existencial. A filosofia que até então circulava entre os mitos e a religião passou a ser um instrumento útil de auxílio  ao homem em seus dilemas diários.

                Bem antes de Descartes, outro filósofo chamado Zaratrustra ( 6 a.C.) teria escrito o código moral, político e religioso dos persas, instigando o mito do “super-homem” a quem  Nietzsche reescreveu as idéias. Para este a maioria das pessoas está presa aos sentimentos de medo, rancor, superstições, ciúmes e inveja e a necessidade de comunicação e vida em sociedade – descrita em sua obra  “Para Além do Bem e do Mal -1886”,  nos transformou em “rebanho” pensante. 

                Hoje os seres habitantes deste “não lugar” cibernético vivem em tribos fantasiosas onde todos se mostram freneticamente, bit por bit, tweet por tweet. Buscando visibilidade e ganhando ansiedade, procurando eco em seus apêndices eletrônicos em uma frenética troca de frivolidades. 

                O bíblico ditado “Dize-me com quem andas e direi que és” anuncia que nossa identidade é intimamente relacionada com nosso próximo. Desde sempre o grupo ao qual pertencemos –  muito mais do que a própria família – indica que somos como eles.

                Ninguém questiona os inegáveis benefícios das mídias sociais, mas o outro lado é um tanto obscuro.  Onde está a felicidade? É melhor, antes de tudo, conhecer a si mesmo ou não se tem mais tempo para isso?  Criar massa crítica a partir do conhecimento puro vindo da boa literatura, da bela aula do sábio professor, do bom papo com o velho e sábio guru? Ou derreter os dedos e neurônios em intermináveis e inúteis desinformações?

                Refeleti-vos pois,  ignóbil geração web!

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  1. Loanda disse:

    Parabéns Volpi pelo belo artigo, que aliás foi tema da redação do último ENEM.

  2. Loanda disse:

    Valeu Loanda Obrigado. abs.

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