Notícias de Fevereiro… de 1935

  em Notarial

O jornal Folha do Commercio, de Campinas, em seu primeiro ano de existência, edição para distribuição gratuita, de número 24, de 24 de fevereiro de 1935, tinha como destaque de primeira página, sua principal manchete, a questão provocadora : AUMENTO DE IMPOSTOS?

Em data recente, um corretor de imóveis, para exibir suas relíquias ao curioso tabelião de notas, levou ao cartório aquele e mais alguns exemplares do jornal.

De fato, não foram as notícias de fevereiro do ano de 1935, que despertaram maior curiosidade deste notário e registrador. Foi o uso da Língua Portuguesa, anterior a duas reformas ortográficas e as propagandas ali existentes, que renderam um belo momento de descontração no meio do expediente de trabalho.

Entretanto, folheando as páginas amareladas do jornal, uma pequena matéria jornalística destacou-se tanto que não se resistiu ao impulso de extrair uma cópia, ainda que parcial, da página 5 daquela edição e da primeira página do exemplar, para bem identificar a fonte da matéria.

Com base nesta cópia transcreve-se o texto – em sua grafia original – para o qual a melhor descrição seria: É Inacreditável! (aliás, pela lei brasileira vigente à época, era também ilegal)

Noivos da morte

Realizou-se ha poucos mezes, em Shiznoka, no Japão, o casamento de dois noivos depois de mortos.

Os dois jovens, desesperados porque suas familias se oppunham ao desejado enlace, haviam-se suicidado.

O prefeito da cidade pediu aos responsaveis pela tragedia que permitissem o matrimonio agora que apenas os espiritos dos dois enamorados poderiam unir-se.

Os paes accederam e o casamento foi feito segundo ritos mais apparatosos.

Eis a mais incrível história que se pode conceber sobre casamento. Até que a morte os separe? Não! Não mesmo! Foi a morte que os uniu.

Claro que a história lembra uma das mais famosas obras de ficção da literatura mundial. Mas não se trata de Motéquios e Capuletos e do amor impossível entre Romeu e Julieta, na tragédia concebida pela mente de William Shakespeare, no Século XVI. Até prova em contrário, o fato teria realmente ocorrido no Japão imperial, ainda antes da eclosão da 2a Guerra Mundial que modificou radicalmente aquele país.

A história deste casamento é passível de questionamento, mas, diferentemente disso, a grande manchete daquela edição, não causa nenhuma estranheza neste ano de 2018.

Segue a transcrição do texto, igualmente na forma arcaica de nossa língua

AUGMENTO DE IMPOSTOS?

Ha dias registrámos que o ultimo balancete da Prefeitura accusava um saldo orçamentario de 2.096:484$536 e que por essa razão devia a mesma tratar da revisão da tabella de impostos que é exaggeradissima, onerando, como não ser vê em outro municipio do paiz, os contribuinte de maneira assaz e abuziva.

Glosando, como se fazia mister, o vultuso saldo orçamentario, provámos que uma administraçao conscienciosa, recta, para se impôr á consideração dos contribuintes procura facilitar-lhe a vida e nunca abusar da sua força, para arrancar delles a sua economia em fórma de impostos ! …

Em Campinas, nos ultimos annos as administrações municipaes só tem em vista escochar o pobre povo para apresentar saldos, na supposição erronea de que é apresentando “superavits” orçamentarios que ella se impõe como capaz!

Pura phantasia.

O que pensa o raro leitor? Nos dias atuais, Fantasia, nesta questão de orçamento público e impostos elevados, se existe, certamente, não está relacionada a impostos e taxas, mas a superávit orçamentário.

Mais fácil, crer na existência do Saci Pererê e na incrível história dos Noivos da Morte do que na redução dos impostos aqui em nosso país.

 

 

Autor:
Marco Antonio de Oliveira Camargo – Oficial de Registro Civil e Tabelião de Notas do Cartório de Sousas de Campinas/SP. Foi tabelião de Notas e Protesto em Matão – SP e oficial interino em Jarinu. Iniciou sua carreira no Registro de Imóveis de Socorro-SP.

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