Vou falar de Ernesto Jaacks Ballester, mas não se pode fazer isso sem antes mencionar a ONPI, Oficina Notarial Permanente de Intercambio Internacional. Ela é um departamento da União Internacional do Notariado, criado por ocasião de sua fundação, em 1948. Tem sede em Buenos Aires. Sua finalidade é publicar a legislação dos países membros, referente tanto à organização notarial como também de interesse geral à atividade tabelioa, além de receber e divulgar notícias dos notariados de todas as nações .
Pois o escribano argentino Ernesto Jaacks Ballester foi o presidente desse escritório durante décadas. Alto, magro, melenudo, com barba, elegante, poliglota, uma vasta cultura, conhecedor do mundo, conversa agradável intermediada de fino humor. Veio de uma estirpe de diplomatas que chegou a dar o nome a um importante bairro de Buenos Aires, a Villa Ballester.
Dizia-se missionário. Sua missão era disseminar a colegiação notarial pelo mundo. Foi nessa sua atividade que o conheci.
Era por volta de 1960. Eu tinha ido a Porto Alegre para esclarecer umas dúvidas técnicas com o tabelião José Luiz Duarte Marques, meu mestre como o foi de todos os tabeliães gaúchos. O Marques tinha integrado o departamento jurídico do Banco do Brasil e era o titular há pouco tempo, por concurso, do 7º Tabelionato, localizado no Edifício Dabdab, no começo da Voluntários da Pátria., O Marques sabia tudo sobre o Direito e, embora o pouco tempo na profissão, também sabia muito sobre o notariado. Tinha uma bela coleção de obras que tratavam de Direito Notarial, importadas da Itália, da França, da Espanha, da Argentina, do Uruguai. Acho que foi o primeiro professor universitário brasileiro de Direito Notarial, cátedra que exerceu na Faculdade de Direito Ritter dos Reis, em Canoas. A morte o levou subitamente, quando em pleno vigor, em 1975, e fecho este parêntese.
Naquele dia, cumprido meu objetivo, eu estava para sair e pegar o ônibus de Novo Hamburgo. Já era quase no final do expediente. Então o Marques me disse que estava em Porto Alegre um tabelião argentino que queria conversar com alguns tabeliães de Porto Alegre. Ele e mais os tabeliães Cassal e Trindade tinham marcado encontro com esse argentino num bar lá próximo, para daí a pouco. E o Marques perguntou se eu não queria participar também desse encontro. Claro que aderi prontamente.
Foi assim que conheci Ernesto Jaacks Ballester. E foi naquela conversa de bar que o Ernesto plantou em nós uma semente da qual brotou o Colégio Notarial do Estado do Rio Grande do Sul, fundado em março de 1961.
Ernesto era um entusiasmado amigo do Brasil, que conhecia como poucos. Percorrera grande parte do território como mochileiro. Participou de tertúlias com Jorge Amado e com a turma de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Certa feita, com outro mochileiro argentino, chegou no Rio e foi ao Hotel Copacabana Pálace para hospedar-se. Informaram que não tinha vaga. Ele sabia que tinha, porque sempre tem, mas ambos foram recusados por causa de suas aparências de mochileiros molambentos, apesar de terem mostrado meios bastantes para pagar a hospedagem. Foram a outro hotel. Vestiram seus smokings e voltaram ao Copacabana Pálace para jantar no seu restaurante. Mas não deixaram de cumprimentar o homem da recepção que os tinha recusado e que deixaram confuso, de olhos arregalados, vendo aquela elegância em que se haviam transformado os mochileiros molambentos….
Como presidente da ONPI, ele participou de todos os congressos notariais brasileiros até a enfermidade que o matou. Nomeou-me delegado brasileiro da ONPI, dizendo que eu seria uma espécie de repórter colhendo e enviando notícias de nosso notariado. Disse-me um dia que eu estava sendo o repórter mais eficiente de todos. Firmamos uma sólida amizade. Nos congressos e demais encontros notariais por este mundo afora, nós nos comunicávamos em alemão, para espanto dos colegas latinos. E o fazíamos juntamente com o conselheiro paraguaio Rafael Casabianca, de ascendência germânica, que era senador e que, como presidente do Senado, chegou uma vez a ser presidente interino do Paraguai, por ocasião de uma crise política que ocorreu por lá. Estivesse Ernesto onde estivesse, ele era sempre o centro de uma animada conversa, focada geralmente em problemas notariais dos mais diversos países.
Assim era esse missionário Ernesto Jaacks Ballester, a quem o notariado mundial deve muito. Guardo dele uma saudosa recordação. Sua amizade foi um apreciável enriquecimento de minha vida.
Pois o escribano argentino Ernesto Jaacks Ballester foi o presidente desse escritório durante décadas. Alto, magro, melenudo, com barba, elegante, poliglota, uma vasta cultura, conhecedor do mundo, conversa agradável intermediada de fino humor. Veio de uma estirpe de diplomatas que chegou a dar o nome a um importante bairro de Buenos Aires, a Villa Ballester.
Dizia-se missionário. Sua missão era disseminar a colegiação notarial pelo mundo. Foi nessa sua atividade que o conheci.
Era por volta de 1960. Eu tinha ido a Porto Alegre para esclarecer umas dúvidas técnicas com o tabelião José Luiz Duarte Marques, meu mestre como o foi de todos os tabeliães gaúchos. O Marques tinha integrado o departamento jurídico do Banco do Brasil e era o titular há pouco tempo, por concurso, do 7º Tabelionato, localizado no Edifício Dabdab, no começo da Voluntários da Pátria., O Marques sabia tudo sobre o Direito e, embora o pouco tempo na profissão, também sabia muito sobre o notariado. Tinha uma bela coleção de obras que tratavam de Direito Notarial, importadas da Itália, da França, da Espanha, da Argentina, do Uruguai. Acho que foi o primeiro professor universitário brasileiro de Direito Notarial, cátedra que exerceu na Faculdade de Direito Ritter dos Reis, em Canoas. A morte o levou subitamente, quando em pleno vigor, em 1975, e fecho este parêntese.
Naquele dia, cumprido meu objetivo, eu estava para sair e pegar o ônibus de Novo Hamburgo. Já era quase no final do expediente. Então o Marques me disse que estava em Porto Alegre um tabelião argentino que queria conversar com alguns tabeliães de Porto Alegre. Ele e mais os tabeliães Cassal e Trindade tinham marcado encontro com esse argentino num bar lá próximo, para daí a pouco. E o Marques perguntou se eu não queria participar também desse encontro. Claro que aderi prontamente.
Foi assim que conheci Ernesto Jaacks Ballester. E foi naquela conversa de bar que o Ernesto plantou em nós uma semente da qual brotou o Colégio Notarial do Estado do Rio Grande do Sul, fundado em março de 1961.
Ernesto era um entusiasmado amigo do Brasil, que conhecia como poucos. Percorrera grande parte do território como mochileiro. Participou de tertúlias com Jorge Amado e com a turma de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. Certa feita, com outro mochileiro argentino, chegou no Rio e foi ao Hotel Copacabana Pálace para hospedar-se. Informaram que não tinha vaga. Ele sabia que tinha, porque sempre tem, mas ambos foram recusados por causa de suas aparências de mochileiros molambentos, apesar de terem mostrado meios bastantes para pagar a hospedagem. Foram a outro hotel. Vestiram seus smokings e voltaram ao Copacabana Pálace para jantar no seu restaurante. Mas não deixaram de cumprimentar o homem da recepção que os tinha recusado e que deixaram confuso, de olhos arregalados, vendo aquela elegância em que se haviam transformado os mochileiros molambentos….
Como presidente da ONPI, ele participou de todos os congressos notariais brasileiros até a enfermidade que o matou. Nomeou-me delegado brasileiro da ONPI, dizendo que eu seria uma espécie de repórter colhendo e enviando notícias de nosso notariado. Disse-me um dia que eu estava sendo o repórter mais eficiente de todos. Firmamos uma sólida amizade. Nos congressos e demais encontros notariais por este mundo afora, nós nos comunicávamos em alemão, para espanto dos colegas latinos. E o fazíamos juntamente com o conselheiro paraguaio Rafael Casabianca, de ascendência germânica, que era senador e que, como presidente do Senado, chegou uma vez a ser presidente interino do Paraguai, por ocasião de uma crise política que ocorreu por lá. Estivesse Ernesto onde estivesse, ele era sempre o centro de uma animada conversa, focada geralmente em problemas notariais dos mais diversos países.
Assim era esse missionário Ernesto Jaacks Ballester, a quem o notariado mundial deve muito. Guardo dele uma saudosa recordação. Sua amizade foi um apreciável enriquecimento de minha vida.