Teste de DNA prova que a herdeira, uma mulher espanhola de 67 anos, é filha biológica de um homem que não quis em vida reconhecer a paternidade
“Os resultados do exame de DNA mostraram uma compatibilidade de 99,9% entre ambos, algo muito surpreendente, porque o normal seria que os restos estivessem degradados, por não ter sido conservados à temperatura ideal”, explica por telefone Fernando Osuna, sócio principal do escritório de advocacia de mesmo nome, firma que cuida de quase 500 casos de filiação e paternidade não esclarecidos.
O relacionamento entre a mãe de sua cliente e seu pai começou em Santander nos anos do pós-guerra. Quando se conheceram, ela trabalhava como balconista numa loja, e ele era um empresário rico. Era uma “mulher muito atraente”, diz Osuna, afirmação comprovada pelas fotos que sua cliente guardava em casa. Desse breve romance clandestino surgiria a filha de ambos, cuja paternidade o empresário nunca tornou pública. “Apesar de tudo, ele continuou enviando cartas, e de vez em quando se encontravam.” Realmente alguns desses retratos mostram a relação surgida entre os dois, e a criança também aparece.
A vida continuou, mas seus caminhos se afastaram logo depois do nascimento do bebê. O empresário, consciente da situação, recusou-se a lhe dar seu nome, e as duas se mudaram para Barcelona. A mãe, com o tempo, revelou o segredo a sua filha, que esperou a morte de ambos para verificar que o homem era realmente seu pai. “As pessoas costumam me perguntar por que os envolvidos demoram tanto tempo para denunciar. Digo que são assuntos extremamente sensíveis”, afirma Osuna, que acrescenta: “Minha cliente, por respeito a sua mãe, não quis litigar antes devido ao constrangimento do processo.”
Há vários cenários nesse processo. O primeiro, o teste do DNA do envelope, que, nas palavras de Osuna “é, hoje em dia, o método mais eficaz e rápido de comparação”, e a coleta de uma amostra biológica da demandante. Depois dele ambos os resultados foram enviados a um centro de análise. O diagnóstico não poderia ter sido mais esclarecedor, alcançando 99,9% de compatibilidade. Depois, um juiz de Santander admitiu a tramitação da demanda, sendo repetido o exame de DNA, dessa vez com a exumação do corpo do homem. “Fomos aconselhados que o segundo teste deveria ser feito num familiar direto, para assegurar a pureza dos resultados. Por ser um momento traumático, os sobrinhos do falecido não estiveram presentes.”
O advogado da querelante espera que o juiz dê razão à filha, depois de apresentada a documentação na audiência, que será realizada antes do fim do ano. “Estamos em contato com os advogados dos sobrinhos. À minha cliente caberiam por lei dois terços da herança”, afirma. Ou seja, cerca de dois milhões de euros, considerando os imóveis e as rendas do empresário. Depois, ambas as partes deverão fazer a divisão dos bens.
Segundo Osuna, nesses casos, à margem do patrimônio herdado, o que realmente importa “é a dignidade dos afetados”. “Com essas demandas se consegue um fim nobre, porque nem sempre é fácil viver dando explicações sobre seu sobrenome, ainda mais sabendo quem é seu verdadeiro pai.”
Fonte: El País