O aniversário de um “amigo”

Em 10 de fevereiro de 2017 completou-se 120 anos de instalação do cartório atualmente sob a titularidade deste tabelião.

Em mais de um século de atividade foram muitos os que ocuparam o cargo hoje ocupado por este escrevinhador, muitos mais, na qualidade de prepostos e auxiliares, também puderam gozar do prazer e da honra de prestar este importante serviço público aos moradores do distrito e da região.

Quando instalado o cartório, o distrito de Sousas era pouco mais do que um pequeno aglomerado urbano rodeado de fazendas produtoras de café, destino de muitos imigrantes e em franca expansão econômica.

Entretanto, as previsões dos pioneiros não se concretizaram da forma como imaginado, o futuro, como geralmente ocorre, encarregou-se de frustrar as expectativas.

Outras regiões desta metrópole, diferentemente do que aconteceu com o distrito, sofreram verdadeira explosão populacional no transcorrer do século XX – o entorno do aeroporto internacional e da Unicamp, são exemplos de regiões que atualmente estão densamente povoadas e que, no passado eram apenas áreas rurais sem grandes expectativas de ocupação urbana.

O fato é que a geografia da região, montanhosa e cortada pelo Rio Atibaia, manancial que até hoje é a principal fonte de abastecimento de água para Campinas e muitas outras cidades da região, dificultou a ocorrência daquilo que se concebia progresso e garantiu o que hoje se concebe necessário: a preservação ambiental.

Nossa área de circunscrição, perfeitamente delimitada para os atos de registro civil, ao qual é anexo o tabelionato, em sua quase totalidade é uma Área de Preservação Ambiental. No mapa de Campinas, a APA – Sousas / Joaquim Egídio representa a principal e maior área preservada do município, uma joia verde que a atual geração preserva para o futuro.

Este “amigo” centenário, tão vivo e necessário, hoje, como em sua criação merece mesmo ser lembrado. Sua história se confunde com a história das  pessoas e do lugar, suas memórias (o seu acervo) é patrimônio importante a ser preservado para as próximas gerações

A nota de parabenização gentilmente produzida e divulgada pela ANOREG-SP  (1), por uma questão de opção editorial foi simplificada em relação ao texto enviado para aquela associação. Na medida em que o espaço editorial aqui é diferente, toma-se a liberdade de reproduzir na íntegra a entrevista realizada e não publicada em sua íntegra:

ANOREG – Há quanto tempo assumiu o cartório?

TITULAR DA DELEGAÇÃO – Assumi por remoção, aprovado no 6º Concurso de Outorga de Delegações, iniciei o efetivo exercício da função em 1º de março de 2010. Em alguns dias, portanto, vou completar sete anos aqui no distrito. Passou rápido demais!  Venho de uma família ligada aos cartórios, meu avô,  meu pai e minha mãe  já exerceram a titularidade de uma delegação, quando ainda não era chamado deste modo. É claro que tenho muito orgulho em exercer esta função importantíssima para a sociedade e que representa uma tradição na família; procuro realizar isso com a máxima dedicação e empenho.

ANOREG –  Qual a maior evolução que pôde observar no cartório ao longo dos anos?

TITULAR DA DELEGAÇÃO –  Somos o menor cartório da maior cidade de uma grande região metropolitana; isso representa grandes vantagens e desafios. Se, de um lado o distrito guarda ares de pequena cidade, onde os usuários são conhecidos e não existe aquela correria da cidade grande,  por outro lado existem problemas que eu não vivenciava nos lugares onde  já trabalhei, efetivamente cidades pequenas e pacatas (comecei em 1986, como auxiliar, no Registro de Imóveis de Socorro).  Recentemente tivemos  um problema com falsidade ideológica e falsificação de documentos e alguns atos notariais estão sendo motivo de  cancelamento judicial, isso é realmente muito desgastante. O fato é que o estelionatário busca aproveitar-se da proximidade do grande centro e ao mesmo tempo da tranquilidade do Distrito. É preciso redobrar os cuidados com a segurança.

ANOREG –  Qual a importância de estar no cartório quando ele completa 120 anos de instalação?

TITULAR DA DELEGAÇÃO – Não tenho dúvida em afirmar que o cartório, criação do século dezenove, ainda é importante e necessário neste século vinte e um. O registro civil e o tabelionato estão se adaptando à era digital;  a conexão em redes, o acesso e fornecimento de informações instantâneas representam a demanda atual da sociedade e nós estamos fazendo a nossa parte. Digo nós, pois estou convencido de que  não será um indivíduo ou um  cartório isoladamente que irá atender ao desejo de informatização e integração que se exige. A solução está nas Associações de Classe. Veja-se o caso do CRC e sua plataforma de integração do Registro Civil, o papel da ARPEN é insubstituível nesta revolução. A CENSEC, do Colégio Notarial é outro exemplo, assim como acontece com o SDT dos Protestos e a central Registradores do Registro de Imóveis, enfim, o futuro estará na integração, mas sem perder a identidade, pois o contato pessoal e direto, a proximidade física com o usuário é algo insubstituível.

ANOREG – Qual o foco do cartório atualmente (tecnologia, acessibilidade, capacitação dos funcionários)? 

TITULAR DA DELEGAÇÃO – O serviço de registro civil de pessoas naturais, nunca foi muito ativo no distrito, pois não temos hospital ou maternidade em nossa área territorial, mas as pessoas adoram casar em nossas instalações. Aliás, no prédio onde o cartório estava instalado  anteriormente o casamento era praticamente ao ar livre, no jardim;  as fotos ficavam belíssimas. Nós mudamos para um novo prédio recentemente e o ambiente para a realização da cerimônia não é igual, mas é igualmente acolhedor, principalmente considerando-se que em alguns cartórios, o casamento é feito no balcão mesmo, quase em uma fila indiana. Por outro lado, neste novo prédio, as instalação para o atendimento do serviço de notas foram em muito melhoradas, há mais privacidade e espaços adequados para as reuniões necessárias para a conclusão dos atos notariais. A intenção, para a futuro, é mesmo continuar com a preparação da equipe para a integração via internet e para a informatização dos atos que inevitavelmente virá. Aliás, não só a equipe, eu também tenho procurado estudar e me manter atualizado ou, pelo menos, ciente das novidades e avanços.

ANOREG –  Tem alguma história curiosa sobre a serventia?

TITULAR DA DELEGAÇÃO – Existem histórias deliciosas em todos os cartórios do país e com este não é diferente. Veja a coincidência: a  pedido, fui conferir os primeiros livros e registros do cartório e constatei dois fatos curiosos  – O oficial de registro que lavrou o termo de abertura dos primeiros livros, posteriormente  foi homenageado com a denominação de uma das principais ruas do distrito, trata-se do Coronel Alfredo Augusto do  Nascimento.   – O primeiro registro de nascimento realizado, em 18 de fevereiro daquele ano de 1897, foi assinado pelo  pai da criança, senhor Atílio Focesi, a mesma  pessoa que foi homenageada com a denominação de uma rua no distrito;  rua esta que, por mais de 10 anos, foi o endereço de instalação do cartorio.

É difícil lembrar, assim quando se é perguntado, sobre os causos do cartório, mas nestes anos que estou por aqui, duas histórias que realmente aconteceram foram reproduzidas (com algum pequeno exagero literário, admito), em um texto que escrevi e enviei para o TJ, quando o então presidente, Dr. Naline convidou a todos para participarem de um Concurso Literário (2). A primeira historia curiosa foi o divórcio do cidadão que reclamou que a esposa o fazia trabalhar demais no sítio da família. Não aguentou, quis o divórcio. A outra, que também está narrada naquela crônica, foi a realização do registro da criança que o pai queria registrar como “Pedro II”, foi difícil, mas conseguimos convencemos o cidadão a alterar para “Pedro Segundo”.

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Notas-

(1) acesso em –  https://www.anoregsp.org.br/noticias/10787/rcpn-e-tabelionato-de-notas-de-souzas-comemora-120-anosbr-rn.html?filtro=1,10  O colunista, humildemente reconhece que, não fosse a lembrança da Assessoria de Comunicação da Associação dos Notários e Registradores – ANOREG/SP, a data teria passado em branco.

(2) O texto referido –  Pedro e o Registro Civil. Uma história singular –  pode ser acessado em   http://blog.notariado.org.br/diversos/concurso-literario-do-tj-sp-cronica-enviada  )

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EXIBINDO 1 COMENTÁRIOS

  1. JOSÉ ANTONIO ORTEGA RUIZ disse:

    Realmente, é uma delicia saborear e parabenizar pessoas valorosas que se dedicam ao extremo a tão importante mister. O Titular, a equipe, os demais contribuintes e em especial os clientes, que em lugares pequenos, não são clientes, são FAMILIA. Pois são fieis ao extremo. E lhe PARABENIZO pelo excelente trabalho e pelo excelente “escrevinhador” que o senhor é. PARABENS DR. MARCO ANTONIO, PARABENS SOUSAS, parabéns à equipe e a todos os CIDADÃOS dai. FELICIDADES, um forte abraço. do sempre amigo

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