A NOVA ORTOGRAFIA E O TOTO

Eu estava escrevendo um e-mail para o Marcos, que também é amigo do dono do Toto, contando das últimas peripécias do fusquinha, como ficar dando voltas e mais voltas na rótula, que é como chamamos por aqui a rotatória, também conhecida por balão, porque a preferência no trânsito é para quem está na rótula, quando esbarrei no pára-choque.

Foi o computador que acentuou e colocou hífen no pára-choque. Eu escrevi parachoque assim, sem acento e sem hífen, porque andei lendo que pela nova ortografia não existe mais acento diferencial nas palavras homógrafas; o hífen também foi coisa da máquina, mas, nesse caso, não tenho certeza de que esteja certo ou errado. Seria, por acaso, para-choque, com hífen? Também andei lendo que está chegando às livrarias, ao preço de cento e vinte pilas, o Volp, que sem trocadilhos quer dizer Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, lançado pela Academia Brasileira de Letras.

Notários e registradores precisam urgentemente comprar o livro, para bem escrever e acentuar, porque celebram contratos, registram fatos e até pessoas, e qualquer vírgula fora do lugar pode ter consequências desastrosas. Outro dia conheci uma pessoa cujo nome estava grafado como Eloi. Há um erro evidente em Eloi, porque tanto pelas velhas regras como pelas regras novas, Eloi tem que ter acento, pena de não ser nada, nem Elói, e nem Eloí.

Como sou notário e já fui registrador, sou chato nisso, e é chato ser chato. Aliás, qualquer dia vou escrever sobre os chatos no cartório. E fico maluco quando alguém escreve o meu primeiro nome, ou se preferirem prenome, como Jose. Tchê, meu nome é José, que é nome de homem. E Jose é nome de moça, pois não?

Mas, continuando nos acentos, e na importância dos acentos, sem fazer confusão com os assentos cartorários, ou outros assentos, voltemos ao Toto. O fato é que uma moça apaixonada, ao ver o nosso fusquinha incrementado, lindo, limpo, reluzindo de tão polido, conquistando os corações apaixonados por carros e até dos que não são apaixonados por carros, leu o nome dele no parachoque, ou para-choque dele, mas só que a moça, que não sabia nada nem das antigas e nem das novas regras ortográficas, e querendo agradar, ou mesmo demonstrar que sabia ler, teve a ousadia de gritar bem alto para as suas amigas e para toda a rua ouvir: olha o Totó? olha o Totó!!!

O Toto, leia-se o dono do Toto, ficou louco com a moça. Todo mundo sabe que Toto não tem acento, e se tivesse seria um circunflexo na primeira sílaba, nunca um agudo na segunda. Ser chamado de Totó, assim como se fosse um cusco pulguento, foi a gota d´água para o Toto, que extremamente magoado abriu a buzina com força, arrancou feito um louco, cantando pneus a toda altura, ao som daquela música do Waldick: "Eu não sou cachorro não…"
 

 

 

Últimos posts

EXIBINDO 0 COMENTÁRIOS

  1. JOSÉ ANTONIO ORTEGA RUIZ disse:

    Realmente, concordo, é chato ser chato, mas creio fazer parte dessa “classe notável dos chatos”, mas confesso mais ainda, vou seguir o conselho do Professor Pasquale: continuarei a valer-me da velha, enquanto puder não ser taxado de incorreto, isso para não contrariar o que acima citei: sou chato confesso. Mas vou melhorar. E fico no aguardo dessas “confidências do chato no cartório”, ao que não acredito que sejas tão chato. Deves ser, com todo respeito e respeito que o ambiente de serviço ai proporciona e pela sua rigidez, um grande amigo de todos e contagiante sua “chatice diária de alegria e amizade”. Um abraço (de um suspeito em opinar pelo respeito que lhe tenho – José antonio – Amaporã-PR).

  2. Marcos Mazzutti de Castro disse:

    Neste momento de mudanças ortográficas, acabamos por prestar mais atenção no escrito, nos policiando e buscando adaptação e consequentemente, descobrimos erros, mais erros, de todas as partes. E contos como este, nos ajudam gravar a forma correta mais facilmente.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *