CHATOS DE CARTÓRIO E A NOVA MEDIDA DA CHATICE

Comentei outro dia sobre os chatos no cartório, mas acho que não fui muito bem compreendido. Alguns entenderam que eu estivesse falando de mim mesmo, como se eu fosse um chato, quando em verdade, em verdade, o que eu disse foi que eu sou chato, e que é chato ser chato, e nisso sou chato mesmo, mas referindo-me à grafia dos nomes próprios, com a sua correta acentuação, de forma que o Mário continue a fazer rima com o armário, como já era nos tempos da minha criancice, lá na Rússia, e não se torne o Mario, PQP – para manter a rima, com o perdão da escrita.

Mas isso não significa que eu seja chato. Aliás, que uma coisa fique clara: um chato de verdade não admite ser chato. Eu não sou.

Feito o esclarecimento, falemos dos chatos, e mais especialmente dos chatos de cartório, essa categoria em franca evolução. Ao que parece cada cartório possui catalogados os chatos de plantão, aqueles que invariavelmente, dia sim, dia também, não se furtam de dar uma passadinha no cartório, nem que seja para ver se há fila para o atendimento. Se não tem fila, vão embora, porque não tem a quem chatear, e para poder voltar depois, quando tiver fila, só para criticar a lentidão do atendimento.

O chato de plantão fica ali, na fila, azucrinando a vida de todo mundo, até se aproximar a sua vez de ser atendido, quando “lembra” que esqueceu a chaleira no fogão, esquentando a água do mate. E sai batendo na cabeça: “que cabeça!… que cabeça!”. 

O verdadeiro chato de cartório, popularmente conhecido como C de C, quando vai ao cartório não vai buscar uma informação; vai para mostrar que sabe tudo da área, e sabe melhor que o notário ou o registrador. Por isso já chega dizendo como deve ser feita a escritura, claro, sem aquelas bobagens tabelioas, segundo Paulo Ferreira.

O chato de cartório, quando vai registrar o filho, escolhe de propósito um nome capaz de expor a criança ao ridículo, só para que seja negado o registro e ele possa brigar, por alguns dias seguidos, ameaçando de cadeia esses agentes da burocracia explícita.

Há muitas espécies de chatos de cartório, alguns tão chatos que chateiam até no dia em que não aparecem para chatear. “Será que adoeceu?”, nos perguntamos, porque afinal de contas, já nos habituamos ao C de C de tal modo que ficamos chateados com a sua falta.

Mas, cada cartório tem o chato que merece, e como ainda não chateei o suficiente por hoje, alguém viu a nova medida da chatice, ou a novíssima MP 459, que concede até 90% de desconto em alguns atos de cartório? Como bem disse o Doutor Sérgio Jacomino, é fdp (fim da picada) mesmo.

Isto sim é chato! Isto é muito chato!

 

 

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  1. Marco A O Camargo disse:

    Hildor, é impagável este comentário.
    Rir alegremente com estas pequenas chatices cotidianas é um doce lenitivo para o tsunami que se apresentou nesta data sobre todos nós.
    Esta MP 459 é um colosso de autoritarismo; uma rasteira em toda classe registral e notarial.
    A intenção da medida é boa (mas o inferno está cheio delas), a regularização fundiária é uma necessidade urgente, mas atropelar o debate democrático e lançar para o Congresso uma revolução deste porte por meio de uma Medida Provisória é, no mínimo, um acinte à democracia; sem contar o fato de ser uma maldade com os registradores.

  2. Márcia disse:

    Felizmente eu pude ler e me divertir.
    Mas não foi fácil, pois hoje, aqui no cartório estava cheio de “chatos” e quase que eu vou embora sem os risos que esta leitura me proporcionou.

  3. ilceo disse:

    Rapaz! Estou preocupado. Se o grau de chatice é medido pela frequência das incursões na sala de espera do teu cartório eu sou, sem qualquer dúvida, o maior chato de Cerro Branco e talvez do Estado. Ou por acaso tem alguém que sentou mais vezes naquele banco, que discutiu futebol com mais ardor e chatice, que surrupiou com mais frequência o famoso chimarrão do cartório e que inventou mais histórias, todas mentirosas, sobre mulheres? Tire-me essa dúvida atroz. Estou com a pulga atrás das “zoreias”.

  4. Solly - Tabelionato Missões disse:

    Os chatos até que não me incomodam, pois meu Tabelionato é pequeno e sobra tempo para conversar com todos, inclusive com eles!!
    O que me chateia, é ter que pagar 5% de ISSQN sobre os emolumentos cobrados, impostos por uma tabela do Estado!

  5. Sandra S. L. Schorn - Formigueiro-RS disse:

    Sensacional a visão bem delineada dos “chatos”. O “x” da questão e o que nos faz tecer comentários dos mesmos é que APESAR DE CHATOS, ainda impõe a sua presença mesmo na ausência, ao nos fazer sentir a sua falta.

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